domingo, 13 de março de 2016

Enquanto todos dormem... [Segunda parte]

Boa noite, lembram do nosso conto, Insônia? Então, essa é a segunda parte da nossa estória, escrita por mim e pela minha amiga corujinha Vivian Yokoo do blog cada livro uma paixão [link].
E vamos lá...


Insônia
01:00 – 02:00


Fui devagar até a cozinha, pois era de onde vinha o barulho estranho que ouvi quando estava no quarto, cheguei e tudo parecia calmo, caminhei então até a porta e me certifiquei que ela estivesse trancada e estava. Foi nessa hora que algo estranho aconteceu, pois quando me virei novamente vi a cortina se balançar, isso me gelou por inteiro e subiu pelos meus pés um ar frio, aquele mesmo ar frio que entrava por baixo da porta do meu quarto.
Lá estava ela se balançando graciosamente mesmo sem ação de vento algum, pois a casa estava toda fechada. Não sei por quanto tempo fiquei ali parado fitando as cortinas, até que ela se cansou e parou tão misteriosamente quando começou a balançar-se.
Novamente lembrei-me dela, que costumava me assustar dessa forma em suas brincadeiras infantis. Então, me senti mergulhando em um mar tenebroso no meio da madrugada, sendo invadido de uma só vez por todas as memórias de quando ela estava comigo, minha amiga.
Ela era doce e seu sorriso sempre me acalmava, mas seu olhar muitas vezes me assustava, principalmente à noite, pois ela sempre vinha me acordar para brincarmos juntos. Seus olhos fundos e um tanto arroxeados contrastavam com seu rosto pálido, deixando-a assustadoramente linda.
Como disse antes brincávamos juntos, se escondendo em todos os lugares da casa. A noite, depois que todos já haviam dormido, nós corríamos para a varanda e brincava de contar estrelas, mas quando minha mãe descobria eu levava uma bronca e era obrigado a voltar para a cama. Eu até que tentava dormir, porém minha amiga sempre me chamava à meia noite, todos os dias, e mesmo quando eu me recusava a brincar ela ficava lá do meu lado com o rosto emburrado e insistente.
Logo, comecei a reclamar com ela, pois tinha noites que eu só queria dormir. Numa dessas discussões, meus pais ouviram e quiseram saber o motivo de eu está falando sozinho, porém não estava falando sozinho, tentei explicar, mas eles foram irredutíveis. Ela estava ali sorrindo para mim, como habitualmente fazia, e minha família insistindo em dizer que não havia mais ninguém.     
Com o passar do tempo as discussões se tornaram mais intensas, e eu ficando a cada vez mais frustrado por minha amiga nunca dizer nada, não me defender e fui obrigado a freqüentar aquelas sessões com o psicólogo. Não entedia porque tantos problemas só pelo fato de eu ter uma amiga.
Até que um dia, minha amiga chorando disse que deveria partir. Disse que estava ficando fraca, sem vida e logo eu iria esquecê-la e de fato esqueci, ate agora. Lembrei-me perfeitamente de suas ultimas palavras, dizendo que se um dia eu precisasse ela voltaria, se um dia eu corresse um grande perigo ela viria me ajudar, bastava eu me lembrar e ela voltaria.
Agora estou aqui na cozinha, em pé, absorto em pensamentos e com essa estranheza percorrendo em minha mente, será que tem alguém aqui? Então, ouço o ruído de madeira rangendo. Novamente o susto, coração tão acelerado que parece não pertencer mais a esse corpo, com grande esforço consigo me virar para o lado a fim de descobrir a origem do barulho.
Era uma pequena porta de madeira, uma porta do armário de madeira da cozinha. Mas não era o nosso armário, este já estava na casa quando nos mudamos e com preguiça de arrumar as coisas nunca mexemos nele. Moramos aqui há pouco tempo, meus amigos e eu viemos para estudar na universidade e dividimos o aluguel da casa.
Aproximo-me do armário calmamente, na duvida se devo olhar ou não. A cada passo dado eu fico mais aflito, minha vontade é sair correndo, mas a curiosidade não deixa. Finalmente crio coragem para olhar dentro do armário e visualizo um envelope marrom e empoeirado, no exato momento que eu toco o envelope um grito ecoa pela cozinha, não um grito e sim uma espécie de riso, uma risada fria e maquiavélica.
Deixo o envelope cair no chão e cubro as orelhas com as mãos. Me encolhi em um espaço entre o armário e a parede, pressionando os olhos pelo pavor daquele som e vou deslizando até me sentar no chão e abraçar as pernas com as mãos. Tremia cada célula do meu corpo, tremia de medo, tremia pelo horror daquelas risadas.

Continua...



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