- Não te amo mais... – Foram
essas as últimas palavras que ouvi quando ela me deixou, restando apenas um eco
agudo do cachorro que latia na vizinhança, aquele latido que mais parece um
grito de apelo.
Foi assim quando ela me deixou,
deixando para trás o seu cheiro pelas paredes da minha casa, ainda algumas
peças de roupas e seus porta retratos espalhados pela sala.
Na noite em que ela me deixou
estava fazendo frio, mesmo assim eu suava demasiadamente pelo desespero por ela
ter me deixado. Após o estrondo que a porta fez ao fechar, eu fiquei para trás,
encostando as costas na porta e sentando no chão, então, abracei meu corpo
ficando em posição fetal como uma forma de proteção, onde nenhum mal pudesse me
atingir.
Quando ela me deixou não consegui
chorar, ela não levou meus LPs de rock, nem minha coleção de quadrinhos. Ela
levou apenas ela própria, levou seu corpo quente, sua respiração suave e suas
palavras doces, levou sua mania de tomar chá antes de dormir, levou o seu mau
humor matinal, levou também seu sorriso quando eu falava bobagens.
Não consegui dormir no dia em que
ela me deixou. Fiquei remoendo suas últimas palavras e durante a noite inteira,
tentei entender quando ela deixou de me amar. Pensava, pensava e pensava, até
que sem forças e sem respostas, no chão da sala, no tapete surrado ao pé da
porta, o sol começou a agredir meu rosto, sol já alto e forte, e pensei: - Puta
que pariu, preciso ir para o trabalho.